domingo, 18 de novembro de 2012

Resenha: Noite e Dia - Virginia Woolf


Noite e Dia – Virginia Woolf
Editora Novo Século, 2008.
(Night and Day - Publicado originalmente em 1919)

Esse foi o primeiro livro da Virginia Woolf que li. Há algum tempo queria ler algo da escritora, embora só a conhecesse porque costumam comparar o que Clarice Lispector escrevia com a literatura woolfiana. Sabia que se tratava de um nome importante para a literatura inglesa, entretanto, nada mais sabia sobre essa incrível mulher. Sinto vergonha em dizê-lo, mas é a verdade.

Aproveitei uma superpromoção no site da Livraria Saraiva e comprei cinco livros dela de uma vez, por R$9,90 cada. Depois fui entender que se tratavam de primeiras versões, logo, havia uma série de pequenos erros de tradução, ortografia e digitação, por isso os preços estavam tão acessíveis. Como não era nada que comprometesse seriamente a leitura, nem me importei.

Decidi iniciar minha viagem pelo universo de Virginia Woolf lendo “Noite e Dia”, segundo livro que ela escreveu. O título foi o que mais me chamou atenção. Conhecedores de Virginia provavelmente teriam recomendado que eu iniciasse por outro romance, talvez “O Quarto de Jacob” ou “Mrs. Dalloway” ou “Orlando”, suas obras mais conhecidas – e reconhecidas. Alguns diriam ser uma loucura começar a lê-la por esse livro, mas foi o que eu fiz. Logo vocês entenderão o porquê dele não ser exatamente o mais recomendado para viajantes iniciantes.

Em primeiro lugar: o livro é grande. Minha edição da Novo Século tem 640 páginas. Isso pode ser desanimador para aqueles não acostumados. Outro ponto, para quem não conhece a escrita de Virginia: ela – e se eu estiver falando besteira, por favor, me corrijam – costuma escrever parágrafos grandes, daqueles que você precisa respirar fundo antes de começar, do contrário, você perde o fôlego no meio do parágrafo e se perde. Por último: a história possui um ritmo mais lento, principalmente no início da obra. Aliado aos outros fatores acima citados, significa que é preciso paciência para se aventurar pelas páginas do romance. Em outras palavras, é desafiador.

Iniciei a leitura com aquela sensação gostosa – e cômoda – de estar pisando em terreno familiar. Senti como se lesse um romance de Jane Austen, ou algo inspirado em seus romances. Aos poucos, porém, percebi que não se tratava disso. Era enganador pensar que “Noite e Dia” buscava resgatar os valores vigentes na época de Miss Austen. O pano de fundo do romance deixa isso claro. É a Inglaterra do início do século 20, com a aristocracia, a burguesia e a classe proletária se cruzando pelas ruas cada vez mais movimentadas.

A personagem principal, confesso, foi o meu grande empecilho. A senhorita Katharine Hilbery não conseguiu me cativar e, por esse motivo, abandonei por duas vezes minha leitura. Não pude sentir a menor empatia por ela, pois nossas personalidades divergiam muito. Ela parecia tão fria e segura de si... Só no fim do romance é que fui capaz de gostar, um pouco, dela. Já Ralph Denham, o “mocinho” da história, me cativou logo no início. Torci por ele do início ao final, embora tenha me enfurecido com suas atitudes em alguns momentos.

Preciso dar destaque a uma personagem que me cativou muitíssimo e que, por minha vontade, seria a personagem principal: Mary Datchet. Ela é uma típica mulher moderna: trabalha, vive por conta própria na cidade (a família dela é do campo), é engajada no movimento feminista e casamento nem passa por sua lista de prioridades. É uma personagem forte, que só não tomou o lugar de Katharine porque a autora não permitiu. Sim, minha admiração por Mary é grande.

Um trecho, para atiçar a curiosidade:

" - É minha terra, esta aqui. Poderia encontrar meu caminho de olhos vendados, só pelo olfato.

E como que para provar, andou um pouco mais depressa, a tal ponto que Ralph teve dificuldade de acompanhar seu passo. Ao mesmo tempo, sentia-se atraído por ela como nunca se sentira antes; em parte, sem dúvida, porque ela era aqui mais independente dele do que em Londres, e parecia firmemente enraizada num mundo do qual ele não fazia parte. Agora, a escuridão espessara a tal ponto que passou a segui-la implicitamente; teve mesmo de apoiar a mão no ombro dela quando saltaram de uma ribanceira para um atalho estreito. E sentiu-se, curiosamente, tímido diante dela, quando Mary se pôs a gritar com as mãos em concha na direção de um ponto de luz que balouçava acima da cerração, num campo vizinho. Ele gritou também, e a luz se imobilizou."

Devo deixar claro: eu gostei do livro. Mrs.Woolf sabia escrever de uma forma que te enreda, que te faz querer saber mais. Só que, dentre os livros dela, "Noite e Dia" não figura entre os mais expressivos. A própria Katherine Mansfield, escritora contemporânea de Virginia, não aprovara o romance a priori, por achá-lo muito simples. Entretanto, mesmo sendo simples, se comparado com os demais trabalhos de Virginia, "Noite e Dia" não é simplório de forma alguma. Merece ser degustado como a iguaria que é. Aos leitores de primeira viagem, recomendo que tente começar por outra obra da escritora. Ou seja louco, como esta que vos escreve, comece por ele e boa viagem!

2 comentários:

  1. Resenha interessante, Mila. Muito informativa. Só achei que você se focou um pouco demais em descrever os personagens e deixou a história de lado. Uma sinopse, dita com suas palavras, faria muita diferença para deixar a resenha mais completa e incentivar, ou não, a leitura deste. De toda forma, muito bem escrito.

    P.S.: doidinha você em ir contra as indicações e começar por este livro. XD aushauhsuahs
    Mas gostei da sua atitude, admiro quem vai contra a maré. ;D

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    1. Carlos, obrigada pela visita e pelas sugestões!
      Concordo que eu fiquei tão envolvida com os personagens que esqueci de falar mais sobre a história, porém, creio que essa fosse mesmo a intenção da autora: criar personagens mais fortes e consistentes do que a história em si. Nossas vidas são recheadas de momentos de aparente banalidade, não de aventuras dignas de uma epopéia, logo, nada mais natural que os indivíduos tenham destaque.
      Ahh, nadar contra a maré é divertido! Mas só depois que já tinha começado a ler é que descobri que não era o livro mais recomendado, então acho que nem mereço esse mérito...
      Obrigada mesmo pela visita e apareça mais vezes x3

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