segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Retrospectiva Literária: Leituras de 2012
















2012 foi um ano de muitas leituras  e muitas, muitas compras! Para fechar o ano, nada melhor do que fazer uma retrospectiva dessas leituras e, por tabela, inteirá-los melhor do meu gosto literário; além de dar dicas de quais serão as possíveis futuras resenhas do blog. Não realizei nenhuma separação por gênero, nem nada do tipo, apenas uma tentativa de ordem cronológica, ou seja, os primeiros títulos correspondem às primeiras leituras e assim vai.


Títulos lidos em 2012:

A Abadia de Northanger, Jane Austen;

O Prato Azul-Pombinho, Cora Coralina;

Odd e os Gigantes de Gelo, Neil Gaiman;

A Vida segundo Peanuts, Schulz;

Mistérios Divinos, Neil Gaiman;

1984, George Orwell;

A Hora da Estrela, Clarice Lispector;

Cuidado: Garoto Apaixonado, Toni Brandão;

Clarice na Cabeceira, organização de Teresa Montero;

A Via Crucis do Corpo, Clarice Lispector;

No Mundo dos Livros, José Mindlin;

Sidarta, Herman Hesse;

Preservação de Acervos Bibliográficos, Norma Cassares e Ana Paula Tanaka;

Psiquê, Angela Lago;

A Biblioteca Mágica de Bibbi Bokken, Jostein Gaarder e Klaus Hagerup;

Sandman – Os Caçadores de Sonhos, Neil Gaiman com ilustrações de Yoshitaka Amano;

Conheça a ti mesmo através da Astrologia Oriental, Leiko Fujino;

A Cor de Cada Um, Carlos Drummond de Andrade;

O Livro do Cemitério, Neil Gaiman;

A Mecânica do Coração, Mathias Malzieu;

Para não esquecer, Clarice Lispector;

A Invenção de Hugo Cabret, Brian Selznick;

Uma vida entre livros – Reencontros com o tempo, José Mindlin;

Cartas a um jovem poeta, Rainer Maria Rilke;

O Ateneu, Raul Pompéia;

O leitor comum, Virginia Woolf;

Fahrenheit 451, Ray Bradbury;

O que é arte – Coleção Primeiros Passos, Jorge Coli;

Até mais, e obrigado pelos peixes, Douglas Adams;

O dia em que troquei de mãe, Jaqueline Mattos;

Meu reino por um cavalo, Ana Maria Machado;

A mulher que matou os peixes, Clarice Lispector;

A vida íntima de Laura, Clarice Lispector;

Praticamente Inofensiva, Douglas Adams;

Música para cortar os pulsos, Rafael Gomes;

O menino poeta, Henriqueta Lisboa;

Admirável Mundo Novo, Aldous Huxley;

Aprendi com Jane Austen, William Deresiewicz;

Fernando Pessoa, o menino da sua mãe, Amélia Pinto Pais;

Lino, André Neves;

Poesia na varanda, Sonia Junqueira;

O ratinho, o morango vermelho maduro e o grande urso esfomeado, Audrey e Don Wood;

A Revolução dos Bichos, George Orwell;

A Dama das Camélias, Alexandre Dumas Filho;

Noite em claro, Martha Medeiros;

O casamento da Leoa, Terezinha Alvarenga;

Noite e Dia, Virginia Woolf;

O dia em que te esqueci, Margarida Rebelo Pinto;

Ex-Libris – Confissões de uma leitora comum, Anne Fadiman;

O fio das missangas, Mia Couto;

Milagrário Pessoal, José Eduardo Agualusa;

A Paixão pelos Livros, Julio Silveira e Martha Ribas;

Sou dona da minha alma – O segredo de Virginia Woolf, Nadia Fusini;

Por que amamos ler?, Brian Bristol;

O livro dos abraços, Eduardo Galeano;

Doidas e Santas, Martha Medeiros;

Amor em segunda mão, Patrícia Reis.


Total de livros lidos no ano: 57 livros.


2012 foi o ano das distopias. Dentre todos os títulos lidos, os que mais me marcaram foram os títulos escritos por George Orwell, Ray Bradbury e Aldous Huxley. Passei a enxergar o mundo sob outros pontos de vista, após essas leituras. Também foi o ano em que mais li Clarice Lispector, embora tenha lido muito menos do que gostaria. Os livros sobre livros também figuraram diversas vezes entre meus títulos escolhidos, além de ter me arriscado na leitura de autores por mim desconhecidos. Acho que fica claro, por intermédio de minhas escolhas literárias, que este ano foi um ano de desconstrução, de mergulho interior e de redescoberta de paixões antigas. Apenas adivinho o que 2013 me trará de opções literárias...

Li menos do que em 2011 – por conta de uma exposição em que trabalhei, cujo tema era literatura infantil, consegui ler 63 livros ano passado –, mas não deixa de ser um número interessante. O número poderia ser mais arredondado se eu tivesse dado conta de mais algum título neste mês. Como não sou do tipo que estabelece metas, nem que compete para ler o maior número de livros ao longo do ano, estou bem feliz com o resultado.

Espero que 2013 seja um ano repleto de leituras a todos!

Feliz Ano Novo!


terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Resenha: O fio das missangas – Mia Couto


O fio das missangas – Mia Couto
Companhia das Letras, 2009
(Publicado originalmente em 2004)

A primeira vez que ouvi falar de Mia Couto foi quando tentei prestar vestibular para Jornalismo, no fim de 2007. Precisava ler O último voo do flamingo, um dos livros da grande lista de livros e filmes requeridos pela Cásper Líbero (sim, tentei passar no vestibular da Cásper; não, não fazia ideia do preço da mensalidade), mas lembro que, na época, não consegui encontrar o livro em lugar algum. Encurtemos a história: não li o livro, não passei no vestibular para Jornalismo (o que foi até bom, pois entrei em Letras anos depois) e esqueci o porquê dessa área me interessar tanto, porém nunca esqueci o nome desse autor; talvez, porque tenha pensado se tratar de uma autora. O fio das missangas foi minha primeira experiência de leitura com o escritor moçambicano. Experiência esta que espero repetir com outros de seus livros.

O fio das missangas é um livro com 29 contos breves como a vida. É um livro rápido e delicioso de ler. Cada conto está transbordante de humanidade. Digo está, e não é, porque o livro combina melhor com a sensação de transitoriedade, de movimento, de fugacidade provocada pelo verbo estar. O universo feminino, seus desencontros e desafios, está retratado em diversos contos, mas a vida é que é o mote do livro. Não há nada mais aparentemente simples do que escrever sobre a vida, entretanto, acredito que não há nada mais complexo do que escrever a vida, fazê-la pulsar nas alvas folhas de papel, sem reduzi-la a um esboço de representação ou a um festival de prolixidade e sentimentalismo. Mia Couto é desses raros casos de escritores que fazem a vida pulsar no papel com simplicidade. Confesso que me apaixonei muito mais pelo estilo de Mia Couto do que pelas narrativas propriamente ditas, embora sejam todas incríveis. Sua escrita possui um misto de fluido, etéreo e lírico que é encantador e nos faz querer ler mais. Como a Juliana Gervason – que logo mais reclamará o posto de minha sócia nesse blog, de tanto que comento sobre ela – escreveu, os livros do Mia Couto nos escolhem, não nós que os escolhemos.

Preciso parabenizar a Companhia das Letras por manter a ortografia utilizada em Moçambique, pois, do contrário, as narrativas perderiam parte de sua carga poética. Da mesma forma que elogio o bom-senso da editora, preciso fazer duas críticas construtivas:

         1 - Os preços dos livros do Mia Couto aqui no Brasil são salgados demais!
Isso dificulta muito o acesso aos leitores, visto que nem todos têm como dispor de R$ 35,00 a R$ 50,00 de seus salários em um único livro de aproximadamente 200 páginas. Pelos materiais utilizados – além do motivo que apontarei abaixo – haveria a possibilidade de baixar os preços;

         2 - As encadernações precisam ser tratadas com mais cuidado!
Adquiri meu exemplar na Livraria Cultura e todos os exemplares disponíveis de O fio das missangas tinham algum tipo de defeito na encadernação. Sim, fui chata o suficiente para olhar todos os exemplares com muita atenção. O meu exemplar, o menos defeituoso de todos, está com os cadernos desalinhados na base – eles foram claramente cortados depois, para se ajustarem à capa – e faltou cola na lombada, o que dá a impressão de que, com o tempo, ele irá descolar. Pagar R$38,00 por um livro cuja encadernação foi tão descuidada? Acho que essa experiência não se repetirá. A editora obteria maior êxito se cuidasse mais atentamente do processo de encadernação de seus livros, afinal, nenhum cliente sente gosto em comprar um produto que apresenta defeitos; com os livros não é diferente.

         Apesar dos dois problemas aqui levantados, o livro é excelente. Senti o chão fugir de meus pés diversas vezes e refleti demais com a simplicidade das vidas narradas nos contos. Demorei para eleger um favorito, porém, agora que o escolhi, sinto como se não pudesse ter escolhido melhor. Compartilharei com vocês o conto O menino que escrevia versos apenas para vocês sentirem o gostinho de algo escrito pelo Mia Couto:

De que vale ter voz
se só quando não falo é que me entendem?
De que vale acordar
se o que vivo é menos do que o que sonhei?

(VERSOS DO MENINO QUE FAZIA VERSOS)



— Ele escreve versos!

Apontou o filho, como se entregasse criminoso na esquadra. O médico levantou os olhos, por cima das lentes, com o esforço de alpinista em topo de montanha.

Há antecedentes na família?

— Desculpe doutor?

O médico destrocou-se em tintins. Dona Serafina respondeu que não. O pai da criança, mecânico de nascença e preguiçoso por destino, nunca espreitara uma página. Lia motores, interpretava chaparias. Tratava bem, nunca lhe batera, mas a doçura mais requintada que conseguira tinha sido em noite de núpcias:

Serafina, você hoje cheira a óleo Castrol.

Ela hoje até se comove com a comparação: perfume de igual qualidade qual outra mulher ousa sequer sonhar? Pobres que fossem esses dias, para ela, tinham sido lua-de-mel. Para ele, não fora senão período de rodagem. O filho fora confeccionado nesses namoros de unha suja, restos de combustível manchando o lençol. E oleosas  confissões de amor.


Tudo corria sem mais, a oficina mal dava para o pão e para a escola do miúdo. Mas eis que começaram a aparecer, pelos recantos da casa, papéis rabiscados com versos. O filho confessou, sem pestanejo, a autoria do feito.

São meus versos, sim.

O pai logo sentenciara: havia que tirar o miúdo da escola. Aquilo era coisa de estudos a mais, perigosos contágios, más companhias. Pois o rapaz, em vez de se lançar no esfrega-refrega com as meninas, se acabrunhava nas penumbras e, pior ainda, escrevia versos. O que se passava: mariquice intelectual? Ou carburador entupido, avarias dessas que a vida do homem se queda em ponto morto?

Dona Serafina defendeu o filho e os estudos. O pai, conformado, exigiu: então, ele que fosse examinado.

O médico que faça revisão geral, parte mecânica, parte eléctrica.

Queria tudo. Que se afinasse o sangue, calibrasse os pulmões e, sobretudo, lhe  espreitassem o nível do óleo na figadeira. Houvesse que pagar por sobressalentes, não importava. O que urgia era pôr cobro àquela vergonha familiar.

Olhos baixos, o médico escutou tudo, sem deixar de escrevinhar num papel. Aviava já a receita para poupança de tempo. Com enfado, o clínico se dirigiu ao menino:

Dói-te alguma coisa?

—Dói-me a vida, doutor.

O doutor suspendeu a escrita. A resposta, sem dúvida, o surpreendera. Já Dona Serafina aproveitava o momento: Está a ver, doutor? Está ver? O médico voltou a erguer os olhos e a enfrentar o miúdo:

E o que fazes quando te assaltam essas dores?

— O que melhor sei fazer, excelência.
E o que é?

— É sonhar.

Serafina voltou à carga e desferiu uma chapada na nuca do filho. Não lembrava o que o pai lhe dissera sobre os sonhos? Que fosse sonhar longe! Mas o filho reagiu: longe, porquê? Perto, o sonho aleijaria alguém? O pai teria, sim, receio de sonho. E riu-se, acarinhando o braço da mãe.

O médico estranhou o miúdo. Custava a crer, visto a idade. Mas o moço, voz tímida, foi-se anunciando. Que ele, modéstia apartada, inventara sonhos desses que já nem há, só no antigamente, coisa de bradar à terra. Exemplificaria, para melhor crença. Mas nem chegou a começar. O doutor o interrompeu:

Não tenho tempo, moço, isto aqui não é nenhuma clinica psiquiátrica.

A mãe, em desespero, pediu clemência. O doutor que desse ao menos uma vista de olhos pelo caderninho dos versos. A ver se ali catava o motivo de tão grave distúrbio. Contrafeito, o médico aceitou e guardou o manuscrito na gaveta. A mãe que viesse na próxima semana. E trouxesse o paciente.

Na semana seguinte, foram os últimos a ser atendi dos. O médico, sisudo, taciturneou: o miúdo não teria, por acaso, mais versos? O menino não entendeu.

Não continuas a escrever?

Isto que faço não é escrever, doutor. Estou, sim, a viver. Tenho este pedaço de vida — disse, apontando um novo caderninho — quase a meio.

O médico chamou a mãe, à parte. Que aquilo era mais grave do que se poderia pensar. O menino carecia de internamento urgente.

Não temos dinheiro — fungou a mãe entre soluços.

Não importa — respondeu o doutor.

Que ele mesmo assumiria as despesas. E que seria ali mesmo, na sua clínica, que o menino seria sujeito a devido tratamento. E assim se procedeu.

Hoje quem visita o consultório raramente encontra o médico. Manhãs e tardes ele se senta num recanto do quarto onde está internado o menino. Quem passa pode escutar a voz pausada do filho do mecânico que vai lendo, verso a verso, o seu próprio coração. E o médico, abreviando silêncios:

— Não pare, meu filho. Continue lendo...

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Canais literários que acompanho



A ideia para esse post surgiu pouco antes de oficialmente inaugurar o blog. Penso em fazer uma série de posts ligados ao universo literário, não somente aos livros que li. Quero trocar dicas e impressões sobre esse vasto universo dos amantes de livros e compartilhar com os viajantes novos experiências e trilhas que tornarão a viagem ainda mais prazerosa.

Com isso em mente, decidi iniciar a troca listando meus canais literários preferidos no YouTube. Até o início desse ano, eu apenas utilizava o YouTube para assistir a vídeos de humor. Desconhecia seu potencial como difusor de dicas literárias ou mesmo como ferramenta de aprendizagem. Graças ao Wellington Ferreira, dono do blog O Vendedor de Livros, fui apresentada a um vídeo em que a Juliana Gervason mostrava como ela realizava a limpeza de seu acervo bibliográfico. A partir daquele vídeo, toda uma gama de canais literários se abriu para mim.

Listarei aqui apenas os canais que acompanho. Caso tenham sugestões de outros canais, por favor, deixem nos comentários que eu terei prazer em ver e, posteriormente, acrescentar a essa lista.



Primeiro canal literário que eu conheci – talvez por isso mesmo eu fale tanto dele aqui no blog. Os gostos literários da Ju se aproximam do que eu gosto de ler, então, sempre encontro uma dica valiosa de leitura em seu canal. Apaixonada por Clarice, recomendo os dois vídeos que ela fez sobre os livros da escritora (aqui e aqui), além do vídeo sobre revistas literárias, que é simplesmente fantástico!



Canal da Tatiana Feltrin e segundo canal literário que descobri, por intermédio do canal da Ju. A Tati trabalha com ensino de língua inglesa, logo, sempre há dicas de Literatura Estrangeira, muitas vezes em seu idioma original. Recomendo os vídeos que ela fez sobre Harry Potter (uma visão bem diferente de quem, como eu, cresceu lendo a série) e Fernando Pessoa. A Tati também fez uma série maravilhosa de vídeos sobre canais literários (aqui, aqui, aqui e aqui) que vale muito a pena ver!



Canal da Luara França que eu conheci por intermédio da Ju e da Tati (canais literários puxam canais literários). Ela costuma ler muitos livros interessantes e alguns quadrinhos também. Ela também fez uma série de vídeos sobre canais literários. No primeiro ela fala sobre os canais estrangeiros; já no segundo ela se aprofunda nos canais nacionais. Vale a pena conferir. Também adoro as tags que ela responde.



Outro canal que conheci por intermédio da Ju, da Tati e da Luara. A Patrícia Pirota é uma apaixonada por Machado de Assis e pelo traço do Joe Sacco. Sempre me divirto com os seus vídeos, pois tenho a impressão de que ela nos chamou para tomar um café e conversar sobre literatura. Tem horas que nos esquecemos que é um vídeo e que não a conhecemos de verdade. Adorei o vídeo que ela fez falando de sebos e de livros novos.



Canal divertidíssimo que eu conheci por indicação da Tati. A Vitória Scritori tem um jeito meio parecido com o meu em algumas coisas, talvez por isso curta tanto o canal dela. Isso e o fato de que ela tem leituras bem diversificadas, o que é muito legal. Adoro o vídeo que ela fez sobre manias literárias. Ri muito!



Conheci o canal do Leonardo Triandopolis por intermédio de algum vídeo da Patrícia Pirota. Ele tem um gosto literário bem diverso do meu e muito interessante. Quem curte livros sobre RPG, literatura fantástica e filosofia oriental vai se identificar com a Estante do Leo. Recomendo especialmente o vídeo que ele fez sobre o Manustrito 512 e a tag que ele criou (e que respondi aqui)



O único dentre os canais aqui citados que não é brasileiro; conheci-o por causa do Leo. A Claudia Oliveira é portuguesa e também tem um gosto literário bem diversificado. Acho o sotaque dela uma delícia – e meio saudoso, visto que sou neta de portugueses, então há um quê de afetivo pra mim no sotaque lusitano – e recomendo o vídeo que ela fez sobre a cultura brasileira em Portugal. Foi por causa desse vídeo que percebi que não sabemos nada da cultura portuguesa contemporânea.



Canal da Denise Mercedes, amiga-irmã da Juliana Gervason, do mesmo grupo da Luara França e da Patrícia Pirota. Apaixonada por literatura latino-americana, especialmente do Gabriel Garcia Marquez. Adorei o desafio literário que ela, a Ju e a Luara fizeram e o vídeo que ela fez só com a Ju (que estava de visita por lá).

domingo, 16 de dezembro de 2012

TAG – Uma pergunta sobre livros ou A história de uma leitora quase comum

Hoje, responderei a tag criada pelo Leonardo Triandopolis, do canal A Estante do Leo. Ele criou uma tag com uma única pergunta – provavelmente, a mais pertinente para todos os amantes de livros:

"Como começou a sua paixão por livros?"

Confesso que não sei dizer exatamente como começou. Sou uma apaixonada por palavras desde pequenininha. Uma antiga amiga da família disse que eu, com cerca de três ou quatro anos de idade, tinha o costume de copiar as letras que via nas páginas de revistas. Estaria aí a semente da futura amante de livros que eu me tornaria? Não sei dizer. Recordo que eu amava mexer na estante de casa, com suas portas abaixo de onde ficava a televisão e o videocassete, e retirar todos os livros que meus pais ali guardavam – poucos, se comparados com a quantidade que temos hoje, mas inúmeros para uma criança curiosa. Gostava de ver suas capas e mexer em suas folhas. Meus pais bem sabem quantas páginas eu rabisquei com giz de cera ou lápis de cor. Ainda há alguns livros em nossa desordenada biblioteca que possuem as marcas de meus rabiscos como provas de um crime literário.

Ao contrário de muitos leitores por aí, não recordo de meus pais me lendo histórias antes de dormir. Posso estar sendo injusta com eles, afinal minha memória não é das melhores. Lembro de ouvir muitas conversas entre adultos – eu sou a filha mais velha e não havia muitas crianças na família para eu brincar – e que minha avó materna contava algumas histórias de cabeça, mas não tenho memórias, nos meus anos pré-escolares, de livros com capas coloridas e histórias para crianças. Recordo claramente de meus pais com livros nas mãos. Livros de capas mais sóbrias, pouca ou nenhuma ilustração, mas repletos de palavras.

O primeiro livro pelo qual me apaixonei chamava-se Conte-me outra história. Foi um presente dessa antiga amiga da família, frequentadora da Igreja Adventista do Sétimo Dia, que há muitos anos se mudou e, infelizmente, não tivemos mais contato. Era um livro de histórias bíblicas que podia ser dividido em três partes: a primeira era uma espécie de cartilha, com recursos para alfabetizar as crianças; a segunda possuía histórias bíblicas curtinhas e com ilustrações muito bonitas; a terceira já continha histórias maiores e com poucas ilustrações. Esse foi um livro que sofreu muito em minhas mãos; há diversos rabiscos nele. Sorte que ele possui uma boa encadernação, então, apesar de velho, rabiscado e até com alguns rasgos, ele ainda vive. Como se trata de um exemplar provavelmente esgotado, segue abaixo uma imagem dele para aqueles que não o conhecem – e imagino que não sejam poucos:



Sei que meus pais leram algumas histórias desse livro pra mim; nunca o li inteiro e, hoje em dia, não creio que o lerei tão cedo.

O primeiro livro que realmente li sozinha chamava-se As duas velinhas de aniversário. Ele fazia parte da quase-biblioteca dos meus pais e, desde que me entendo por gente, já tinha a aparência de um livro velho. Ele tem uma dedicatória desconhecida, datada de 1971, o que me faz supor que foi adquirido em um sebo. Possui ilustrações simples e uma história quase bobinha: é a história de uma vela de aniversário que representa o primeiro ano de vida de uma menina chamada Terezinha. Essa velinha ganha uma irmãzinha e ambas se aventuram para ajudar a menina, que acaba adoecendo. É um livro de forte cunho religioso, coisa que não percebi na época, mas que também marcou minha infância. Adorava tê-lo sempre por perto e foi um prazer conseguir lê-lo inteiro. Ele está intacto, sem rabiscos, mas muito, muito velhinho. Também colocarei uma imagem dele abaixo:



Imagino que esses dois exemplares podem ter sido os nutrientes necessários para que meu interesse por livros desabrochasse. Em minha época de Ensino Fundamental, o que mais adorava era ir uma vez por semana na Sala de Leitura e poder escolher um livro pra levar pra casa. Não lembro de quase nenhum dos livros que li nessa época, mas sei que eles foram importantes para fortalecer o meu interesse pelo universo literário. Conforme cresci, diversos livros me acompanharam em minhas descobertas e dúvidas e medos. Tenho vergonha de alguns deles, entretanto, na época eles cumpriram bem a função. Não recordo de ter ficado desinteressada por livros em alguma época. Obviamente, houve épocas em que eu li pouquíssimo, mas nunca fiquei completamente sem interesse por esse universo.

Após o Ensino Médio meu interesse por livros só fez crescer. Como quase todo estudante, não gostava muito de ser obrigada a ler – sempre li por gosto, não por obrigação –, mas amava as aulas de Literatura. Quando a obrigatoriedade de ler 'acabou', senti mais vontade de me aventurar pelos diversos universos literários existentes. Creio que, a partir de então, minha capacidade como leitora ampliou consideravelmente; a faculdade de Letras, apesar dos pesares, tem me ajudado demais nesse ponto. Passei a interpretar os textos de outra forma e estou ciente que tenho muito a desenvolver ainda.

A paixão pelos livros me acompanha há tanto tempo que é um exercício complicado tentar definir um ponto para seu começo. Tenho a sensação de que esse amor literário nasceu comigo, logo, faz parte do meu ser. Foi divertido fazer esse passeio ao passado, pois com isso encontrei diversas memórias soterradas pela poluição cotidiana. Espero que tenham gostado e, caso tenham interesse em responder a tag, seja por vídeo ou texto, sintam-se à vontade. Só não esqueçam de citar o Leo, afinal foi ele o idealizador da tag.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Resenha: O dia em que te esqueci - Margarida Rebelo Pinto


O dia em que te esqueci – Margarida Rebelo Pinto
Oficina do Livro, Portugal. 2009.

O dia em que te esqueci é daqueles livros que te pegam pelo título. Interessado ou não, você ficará curioso para saber o porquê dessa escolha para o título do livro. Como todos os demais livros que resenhei para este blog, nunca tinha lido nada da escritora. Para falar a verdade, sequer a conhecia. Soube do livro pela página do Facebook da Editora Bertrand, que também disponibilizava um link para ler o primeiro capítulo. Atiçada pelo título, fui ver do que se tratava.

Apaixonei-me pelo que li! A autora parecia escrever para mim; ela me fisgou logo nas primeiras linhas. Não tinha mais jeito: precisava comprar o livro. Vasculhei em diversos sites de livrarias, mas não consegui encontrar a edição da Bertrand. Imagino que, na época, ainda não estivesse nas lojas. Na Estante Virtual encontrei uma outra edição, esquecida no setor de Psicologia – o que me fez lembrar do maravilhoso blog da Denise Bottmann –, por um preço deliciosamente baixo. Comprei. Ao chegar, descobri:
  • Se tratar da edição portuguesa, da editora Oficina do Livro (cuja imagem, vocês veem no início da resenha);
  • Que a autora, Margarida Rebelo Pinto, era portuguesa;
  • Em sites como a Livraria Cultura, o preço dessa edição está em torno de R$70,00 (e eu paguei menos de R$20,00);
  • Que a minha edição, que eu julguei que tinha apenas uma dedicatória carinhosa, era, na verdade AUTOGRAFADA!

Comparem a imagem de um autógrafo dela, mais antigo, com a foto da dedicatória no meu exemplar. A caligrafia mudou em alguns pontos e a assinatura também, mas há traços que são inconfundíveis! Acompanhem o traço da assinatura dela e a forma como ela escreve a data:

 

Ganhei meu ano ao descobrir uma preciosidade dessas!

Retornemos à história...

O livro é uma espécie de carta que a narradora-personagem escreve para um homem que ela amou muito – e que a fez sofrer muito também – e que ela finalmente esqueceu. Há uma série de digressões ao longo da narrativa, que nos faz compreender melhor a vida da personagem. É curioso, pois quase não há descrições físicas, lugar-comum na literatura feita hoje; há o predomínio das impressões e sentimentos da narradora-personagem. Somos confidentes dela, embora o destinatário daquela carta seja outra pessoa. Temos aquela sensação estranha de ler a correspondência alheia e nos reconhecermos nela.

Não há uma linearidade aos moldes clássicos. Conforme havia dito, as digressões ocorrem aos montes, mas sem cronologia definida, e sim numa excelente representação de como funciona nosso pensamento ao escrevermos.

Por alguns momentos cheguei a ficar incomodada com a história, pois ela me tocou profundamente. Em determinados parágrafos eu vislumbrava minhas antigas paixões e meus amores de outrora, além de diversos sentimentos e ações que eu mesma tive. Este livro, por sua forma singela, mas contundente de narrar o amor, me fez abrir os olhos para muitas coisas que eu fingia ignorar. Fez-me tomar atitudes que eu vinha postergando há tempos. Creio que posso dizer então que O dia em que te esqueci foi um livro que me modificou após a leitura. Não exatamente por sua história, mas pela minha que encontrei representada nas doces palavras de Margarida Rebelo Pinto.

Como a Juliana Gervason, do blog O batom de Clarice, disse em seu último vídeo, algo do estilo quase confidencial de Margarida remete a escritora Martha Medeiros, embora sinta que a Martha é mais ferina, do pouco que li dela (dois livros apenas). Talvez algum fã mais experiente de Martha Medeiros possa discordar de mim ao ler algo da Margarida Rebelo Pinto. Por sinal, a Juliana fez uma excelente resenha do livro, que recomendo a todos.

Aqui no Brasil, o livro saiu pela Bertrand, logo, desconheço o tratamento dado à nossa edição. Será que aqui eles reeditaram utilizando as nossas regras ortográficas? A edição portuguesa, além do charme da capa dura parcialmente em tecido, causa-nos a delícia de perceber as diferenças da língua, das construções sintáticas e da prosa poética em sotaque lusitano.

Recomendo a leitura a todos, mas, principalmente, àqueles que, como eu, nada sabem da Literatura Portuguesa Contemporânea. Que este seja o primeiro estímulo para conhecer mais sobre a literatura d'além-mar.